Mortes relacionadas com o sistema climático

12.º Ano BIOLOGIA - V. Preservar e Recuperar o Meio Ambiente

Especialista da OMS alerta
Mortes relacionadas com o sistema climático podem duplicar até 2030
24.05.2006 - 10h14 Ricardo Garcia PÚBLICO



O mundo tem de se preparar melhor para os efeitos do aquecimento global sobre a saúde humana. O aviso é de Bettina Menne, dirigente europeia da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a área das alterações climáticas.

A especialista tem boas razões para se preocupar. Estimativas da própria OMS indicam que, em 2030, poderá haver 300 mil mortes relacionadas com o clima em todo o mundo - o dobro do total calculado para 2000. "Assumimos que os efeitos na saúde vão duplicar, se nenhuma acção for tomada", disse ao PÚBLICO Bettina Menne, que está em Lisboa para um seminário, hoje, sobre o tema.

Um estudo da OMS, divulgado em Dezembro passado, encontrou números concretos sobre a relação entre modificação climática e saúde. Por cada 1ºC a mais nos termómetros, houve números mensuráveis de aumento da mortalidade no Verão e de casos de intoxicação por salmonelas para os últimos 30 anos. A estação dos pólenes ficou mais longa e insectos transmissores de doenças passaram a ser encontrados mais a norte e em zonas mais altas. "Este é o tipo de prova que temos", afirma Bettina Menne.

Um dos primeiros documentos que retratam as rasteiras do clima sobre a saúde é de 1603, quando um médico italiano reportou um pico de mortes devido a uma onda de calor. Só em 1992 é que o assunto apareceu num artigo publicado numa revista com arbitragem científica.

Ainda muito por estudar

É um tema recente, sobre o qual ainda há muito a aprender. Os estudos actuais, diz Bettina Menne, olham sobretudo para ondas de calor e para doenças transmissíveis por vectores, como insectos. Outros aspectos precisam de ser melhor avaliados, como os impactes na nutrição e nas doenças transmissíveis pela água, especialmente nos países em desenvolvimento.

Estes dois aspectos afectaram 150 mil pessoas na Amazónia, no ano passado, durante a sua pior seca dos últimos 60 anos, segundo Menne. Este exemplo será tratado como um estudo de caso no próximo relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, cujo capítulo sobre saúde é coordenado pela especialista da OMS. O relatório será divulgado em Abril de 2007.

Mas nem tudo são más notícias, no que toca aos impactes do clima na saúde. "Desde que se tomem medidas agora, podemos evitar boa parte deles", afirma Bettina Menne. "A questão é por quanto tempo as nossas medidas serão suficientes", alerta a especialista.

Um exemplo é o das ondas de calor. Depois do Verão de 2003, muitos países europeus colocaram planos em marcha para evitar uma repetição dos números trágicos de óbitos. "Se uma nova onda de calor semelhante ocorrer nos próximos anos, provavelmente a nossa memória histórica será suficiente para evitar o pior", diz Bettina Menne. "Mas se ocorrer dentro de 20 anos... as pessoas esquecem-se rápida e facilmente."

A OMS sugere uma série de medidas de curto, médio e longo prazo para minimizar os efeitos do clima na saúde. Uma delas tem que ver com a detecção, em tempo real, quando algo de errado estiver a acontecer. "Hoje, temos 48 doenças de declaração obrigatória [na Europa]. Nem todas as que estão relacionadas com o clima estão nestas 48", refere Menne.

Bettina Menne não acredita que tenha havido negligência em relação às questões da saúde, quando se fala de alterações climáticas. "Simplesmente, estamos agora a olhar para elas", refere, acrescentando que sete países europeus já estão a trabalhar sobre o tema. "Portugal foi um dos primeiros", salienta. Dois estudos foram já conduzidos, no âmbito do projecto SIAM, que avalia os efeitos das alterações climáticas no país.

O mais recente, publicado há poucos meses, fala de um expectável aumento das ondas de calor nos distritos de Lisboa, Porto e Faro, mas também de uma redução do stress térmico no Inverno. O estudo diz que é urgente a monitorização de parasitas e vectores de algumas doenças infecciosas, como leishmaniose, febre da carraça, letpospirose, malária e febre do Nilo Ocidental.

Quarta Maio 24, 2006 12:02 / netxplica.com

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