Embriões a partir de tecido ovárico congelado

12.º Ano BIOLOGIA - I. Manipulação da Fertilidade

Cientistas conseguem obter embriões humanos de tecido congelado dos ovários
Joana Filipe
Público On-Line, 12-03-2004


Ajuda futura no tratamento da infertilidade

Dois artigos científicos, publicados esta semana, relataram avanços no congelamento e transplante de tecido dos ovários. As duas experiências - realizadas numa mulher e numa macaca - poderão ajudar a devolver a fertilidade a mulheres submetidas a terapias contra o cancro, que por isso tiveram a menopausa precocemente.

A quimioterapia e a radioterapia associadas ao tratamento de cancro podem provocar esterilidade nas mulheres. Uma das maneiras para contornar este efeito secundário dos tratamentos poderá ser o congelamento de tecido dos ovários, para mais tarde, após a terapia, transplantá-lo, devolvendo desta forma a fertilidade às mulheres com menopausa precoce. As duas experiências, anunciadas nas últimas edições das revistas britânicas "The Lancet" e "Nature", tornaram mais próxima esta possibilidade.

A equipa de Kutluk Oktay, do Hospital Presbiteriano de Nova Iorque e do Centro Médico Weill Cornell, nos Estados Unidos, descreve no "The Lancet" como realizou um transplante de tecido ovárico numa mulher de 36 anos que havia sido submetida a quimioterapia, na sequência de um cancro da mama. O tecido ovárico tinha sido retirado à mulher antes início da terapia do cancro, quando tinha 30 anos, e foi criopreservado. Seis anos depois, os médicos fizeram um transplante subcutâneo do tecido, na zona do abdómen. Os ovários voltaram a funcionar três meses após o transplante.

Os médicos retiraram, entretanto, 20 ovócitos do tecido dos ovários transplantado e, recorrendo à fertilização "in-vitro" com espermatozóides do marido da paciente, conseguiram obter um embrião de boa qualidade, que se desenvolveu até às quatro células e foi implantado no útero da mulher.

A gravidez não resultou, mas a experiência representa um "avanço significativo", diz Kutluk Oktay, citado num comunicado de imprensa da revista: "Em primeiro lugar, as mulheres podem preservar a sua fertilidade através do congelamento do tecido ovárico; em segundo, a gravidez pode ser possível mesmo depois do tecido ter estado congelado durante muito tempo."

Num comentário a este trabalho, na mesma revista, Johan Smitz, da Universidade Vrije, em Bruxelas (Bélgica), manifesta, no entanto, algumas reservas quanto à "eficácia e segurança" do novo método, preferindo que seja ainda visto como "experimental". Um dos argumentos do cientista europeu é de que a detecção de células cancerosas nos tecidos congelados é ainda difícil, representando assim um factor de risco.

A experiência em primatas foi semelhante, mas desta vez a gravidez foi bem sucedida. A equipa de Don Wolf - do Centro Nacional de Investigação em Primatas de Oregon, nos Estados Unidos - fez um transplante de tecido dos ovários de macacos da espécie "Macaca mulatta". Da experiência resultou o nascimento de um macaco saudável do sexo feminino, que se chama Brenda.

O tecido dos ovários de sete macacos, que neste caso não foi congelado, foi transferido para diferentes partes do corpo dos animais, como os braços, o abdómen ou o fígado. Depois, os cientistas extraíram os ovócitos, fertilizando-os com os espermatozóides. Um embrião de cinco células e outro de oito foram então implantados em duas macacas, que serviram de barriga de aluguer.

Numa das macacas, a gestação foi bem sucedida e terminou com o nascimento, no ano passado, da Brenda, com 500 gramas. Este foi o primeiro primata a nascer após um transplante dos ovários. Para os investigadores, esta experiência mostra que é possível "devolver a fertilidade aos sobreviventes do cancro", apesar de o transplante ter sido feito com tecido não congelado e, em casos de cancro, os tecidos terem de ser criopreservados para transplantar mais tarde.

Neste momento, uma alternativa disponível para as mulheres vítimas de cancro é o congelamento de ovócitos, uma técnica que, pela primeira vez, permitiu o nascimento em 1997 de um bebé, nos Estados Unidos.

A equipa de Kutluk Oktay entende, no entanto, que o congelamento de ovócitos é uma técnica que, para além de ter uma baixa taxa de sucesso, necessita de várias semanas de estimulação dos ovários para ser realizada, e que muitos doentes de cancro não têm tempo para se submeterem ao processo de recolha de ovócitos antes de iniciar os tratamentos.

Quinta Dec 01, 2005 11:32 / netxplica.com

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